Luís Rouxinol Jr.: "O meu pai sempre me transmitiu que na arena é que se responde a tudo" 

20-07-2018

- Cumpre-se hoje, 20 de Julho, um ano do dia da sua alternativa. Que mais recorda dessa noite?

Foi uma noite sonhada, onde me senti realizado... Ter os meus ídolos no cartel, ter o meu pai como padrinho, estar na minha praça de sonho, ter uma ganadaria que admiro muito, o meu "público", foi um sonho realizado. Foi um marco na minha vida.

- Se pudesse voltar a 20 de Julho de 2017 que mudaria?

É difícil responder a essa pergunta. Foi uma noite muito exigente, onde lidei um toiro complicado. Não tive o triunfo desejado mas tendo em conta as dificuldades do meu oponente creio que tive uma boa alternativa, com uma lide de mérito. Mas sobre o que mudaria...? O toureio é improviso, temos que sacar os cavalos certos consoante as características do toiro, e talvez o cavalo que escolhi, o Douro, não fosse a melhor opção para aquele toiro. Mas de resto não mudava nada.

- Que maiores diferenças sentiu com a alteração da categoria de praticante para profissional?

As exigências agora são muito maiores. Partilho cartel com os melhores, passei a profissional e o nível que me é exigido é outro. Existe também um pouco mais de pressão, até por se filho de quem sou mas tento transformar as exigências em boas prestações. Graças a Deus lido bem com essas adversidades.

- E qual o balanço deste primeiro ano de cavaleiro de alternativa?

Faço um balanço muito bom e positivo. Sinto-me evoluir todos os dias e com mais maturidade. Felizmente tenho correspondido nas corridas importantes. Desde que me tornei profissional, participei em 7 corridas com troféu destinado à melhor lide... Ganhei 6 e acho que isso é bastante importante. Sinto-me seguro com qualquer ganadaria, penso que estou no caminho certo. Trabalho todos os dias para evoluir ao máximo e graças a Deus também tenho tido uma quadra à altura.

- E qual a actuação que destacaria desde que é cavaleiro profissional?

Felizmente muitas me vêm à cabeça mas recordo-me de uma atuação importante na Feira da Moita no ano passado, as várias que participei no Montijo, uma em Reguengos no 15 de Agosto, as de São Manços, de Beja mas principalmente as duas em Coruche: uma no ano passado e a outra já este ano e ambas frente a toiros Palha.

- Que maiores dificuldades lhe têm surgido?

Acho que as maiores dificuldades são mesmo quando saem os toiros complicados. Só que nunca podemos virar a cara a essas adversidades. E são esses toiros que dão traquejo e experiência. Depois existem outras adversidades fora de praça que só se resolvem respondendo na arena, com triunfo.

- Sente que já tem um tipo de toureio definido e com o qual se identifica?

Procuro praticar um toureio emotivo, comunicativo, de conexão com o público mas sobretudo verdadeiro. Ir "lá acima" e também lidar o toiro! Creio que isso hoje em dia vale muito, não pode chegar só meter grandes ferros! Acho que tem que se saber mexer com o toiro, mudar os terrenos, desafia-lo, provocá-lo mas nunca lhe perder o respeito. Gosto de transmitir o que faço e que o público sinta a minha entrega e o meu esforço. Pouco e pouco penso que vou encontrando o meu tipo de toureio.

- Por detrás de um grande toureiro, há sempre um grande apoderado. Concorda?

Sim sem dúvida. O Francisco Penedo é como se fosse da minha família e tem feito um trabalho espectacular, que às vezes é quase tão difícil como o dos toureiros. É uma pessoa com uma visão muito boa e íntegra da Festa, sabe defender os seus toureiros e como promover a nossa imagem. É um amigo de verdade, dos melhores que tenho e sei que faz muitos sacrifícios por mim mas também sei que quando triunfo, ele sente de verdade as minhas alegrias. Não poderia ter melhor pessoa ao meu lado. É uma pessoa "à antiga" mas com visão para o futuro. E porque um bom toureiro só se faz com uma boa equipa, eu graças a Deus tenho uma grande equipa a meu lado. Espero que o Francisco me acompanhe no mínimo até aos meus 30 anos de alternativa e sei que nessa altura se vai orgulhar do toureiro que "criou". Só lhe tenho a agradecer do fundo do coração, o que ele tem feito por esta casa, e especialmente por mim. É Um grande homem e um grande ser humano.

- Como frisou, tem conquistado praticamente todos os prémios de melhor lide das corridas onde tem participado. Herdou também essa característica de seu pai, que é o cavaleiro com mais troféus conquistados ao longo da sua carreira, sendo inclusive apelidado de "papa prémios"?

Eu bem tento para que isso aconteça... E graças a Deus isso tem acontecido. Creio que não há nenhum toureiro no mundo com tantos troféus como o meu pai e é um orgulho enorme ser filho de quem sou. Sonho um dia bater o seu recorde ou então chegar lá perto pelo menos...

- O ano passado, além da corrida da sua alternativa repetiu em Lisboa em Outubro na corrida de Gala. Tanto na temporada de 2017 como já na deste ano, tem demonstrado ser um caso sério, de regularidade e triunfo, e mesmo assim o seu nome não consta por enquanto no abono do Campo Pequeno de 2018. Porquê?

Pois... Ainda não houve oportunidade para tal. Creio que ainda faltam anunciar 2 ou 3 cartéis e se a Empresa do Campo Pequeno mantiver o seu critério de contratar quem triunfa, então o meu nome terá que constar nalgum desses cartéis. Se isso não acontecer, também não será o fim do mundo... Da minha parte, só terei que continuar a triunfar todas as tardes e mostrar do que sou capaz e talvez um dia, certamente que em Lisboa irão reconhecer o meu valor.

- Mas considera justo ainda não estar anunciado em Lisboa?

A empresa de Lisboa sempre foi justa para comigo até aqui, nunca me fechou nenhuma porta, portanto não vejo razão para o fazer agora. No que me toca, irei fazer o meu trabalho normalmente, e o que tiver que acontecer acontecerá.

- Que obstáculos de maior tem sentido fora da arena?

Tem havido alguns como é normal em tudo na vida. Cabe a nós saber superá-los. Mas penso que os maiores obstáculos têm sido as vezes que saí de certos cartéis para onde estava contratado e sem razão alguma. Outras vezes, apesar do triunfo, não sou repetido... Infelizmente, são coisas normais da nossa Festa. A crítica às vezes também não é justa... Mas a maior resposta que se pode a dar a tudo isso é sempre na arena. O meu pai sempre me transmitiu que na arena é que se responde a tudo, é o que tento fazer!!

- Mas sente que tem existido também alguma necessidade, inclusive por parte da imprensa, em abafar alguns dos triunfos do Luís Rouxinol Jr?

De facto às vezes noto isso. Existem certos órgãos de comunicação social que não contam exactamente como foram a corridas mas sim consoante lhes é pedido. Felizmente também existem aqueles que escrevem as coisas de forma digna e isenta. Não quero de maneira alguma que me beneficiem, longe de mim que isso aconteça. Mas muito menos que escondam o que se passou. De qualquer forma tenho aprendido a não dar já muita importância a isso pois a maior crítica que existe vem do público, e é esse que paga o bilhete. E depois, o meu pai é sem dúvida o meu maior crítico, é a pessoa mais exigente que há comigo, e se ele ficar satisfeito com as minhas prestações, isso basta para me sentir realizado.

- Ser filho do cavaleiro Luís Rouxinol é mais difícil do que parece?

Não é tarefa fácil ser filho de quem sou! As pessoas exigem mais mas obviamente traz muitos benefícios, como ter a honra de escutar os seus ensinamentos, os seus conselhos e até ter algumas das suas montadas. E depois existem as inevitáveis comparações entre Pai e Filho... Mas tenho grande orgulho em ser filho de quem sou, de ser filho de um grande toureiro mas sobretudo ser filho de um grande exemplo de vida.

- E no dia que o seu pai decidir abandonar as arenas como é que o Luís filho pensa que a Festa dos Toiros em Portugal irá ficar?

Certamente ficará muito mais pobre. Desejo que ainda demora algum tempo para isso acontecer... Mas depois só me cabe a mim defender com todas as armas que tenho o nome da dinastia Rouxinol. O meu pai foi, é e sempre será uma GRANDE figura do Toureio. Chegou, lutou e venceu! Superou todas as adversidades dentro e fora de praça e com muito trabalho e valor alcançou o topo. É sem dúvida um marco no toureio português, fez História, deixou marcas por onde passou. Não é à toa que é o único cavaleiro com 3 saídas em ombros em Lisboa. Não é por acaso que tem 3 Galardões de Triunfador de Lisboa, não é por acaso que actuou em praticamente todas as praças do mundo... E a tudo isto juntam-se cerca de 400 troféus! Temos grandes toureiros mas para mim o meu pai foi dos melhores. Triunfa com todos os toiros, com todos os colegas, entrega-se em qualquer praça... Não me vêm muitos nomes a cabeça com estes feitos! É o meu ídolo, um exemplo e darei tudo todas as tardes para que esteja ao nível dele. Vou trabalhar para o quase impossível, que é tentar ser superior a ele. Sei que tanto ele como o meu avô, que foi o impulsionador disto tudo, se vão orgulhar muito de mim. Ser um Rouxinol não é ser um qualquer, ser um Rouxinol é ser um guerreiro na praça e na vida, é remar contra marés, é enfrentar tempestades, é ser um vencedor na vida e graças a Deus tenho dois bons exemplos em casa. Tenho tudo para ser uma Figura, só depende de mim... E só me resta trabalhar muito para ser um dia como o meu herói. Quero ser reconhecido um dia como Figura tal como o meu Pai.

- E quantos passos faltam ao Luís Rouxinol Jr para chegar ao objectivo que tanto deseja, ser Figura do Toureio como o seu pai?

Muitos... Tenho muitos degraus a subir mas penso que estou no caminho certo. Sou apenas um jovem que quer ser Figura do Toureio, mas ainda estou muito longe disso. Para mim ser Figura não é triunfar durante um ou dois anos, ser Figura é triunfar todos os dias, com todos os toiros, anos e anos a fio com regularidade. Trabalho todos os dias para evoluir nesse sentido e posso prometer aos que que acreditam em mim esse trabalho, entrega e dedicação. Podem haver toureiros com a mesma vontade de ser Figura como eu mas não existe ninguém no mundo com mais querer do que eu!! Espero ter Deus do meu lado e a estrelinha da sorte também ainda que saiba que essa, a sorte, não cai do céu ... procura-se por ela com trabalho e sacrifício.